Você disse: Atue como um jornalista especializado com 20 anos de experiência em grandes veículos de comunicação. Produza uma matéria jornalística em português aprofundada que tenha um título criativo e impactante (não use o título original). Sem menção a fontes externas ou links de outros sites. Sem datas específicas. Sem referências a ‘segundo o portal/veículo’. e sem link de sites e entre 400 e 600 palavras: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2025/07/11/cidade-do-rn-tem-mais-de-90percent-da-populacao-morando-em-unidade-de-conservacao-ambiental-diz-ibge.ghtml

Imagine morar em uma cidade onde a paisagem natural não é apenas um cartão-postal, mas o espaço real onde se vive, trabalha e cria vínculos. Em um cenário singular no Brasil, uma cidade do Rio Grande do Norte apresenta um dado surpreendente: mais de 90% da sua população reside dentro dos limites de uma Unidade de Conservação Ambiental. Esse dado, mais do que estatístico, revela uma convivência rara entre urbanização e preservação ecológica.

A cidade em questão é Galinhos, localizada em uma península isolada por dunas, salinas e mar. O acesso ao município se dá apenas por barco ou veículo com tração especial, o que já impõe um modo de vida diferenciado. Mas o que a torna ainda mais única é o fato de que praticamente toda a sua população está inserida em uma área oficialmente protegida. Isso significa que as rotinas dos moradores, desde a construção de uma casa até a atividade econômica, precisam respeitar diretrizes rígidas de preservação ambiental.

Essa relação entre povo e território impõe desafios, mas também oferece oportunidades. A presença constante da natureza — com manguezais, restingas e áreas de preservação permanente — influencia diretamente a economia local, baseada principalmente na pesca artesanal, no turismo ecológico e em pequenas atividades sustentáveis. Ao mesmo tempo, os moradores precisam lidar com restrições legais que dificultam investimentos em infraestrutura, expansão urbana e até mesmo reformas de moradias.

Para os galinhenses, o orgulho de viver em um “paraíso protegido” convive com a burocracia e a falta de políticas públicas adaptadas à realidade de quem vive em áreas ambientalmente sensíveis. Em muitos casos, é necessário um verdadeiro malabarismo jurídico para conseguir autorizações que permitam o mínimo de dignidade urbana, como saneamento básico ou melhorias em escolas e unidades de saúde.

A questão central que emerge é a busca pelo equilíbrio entre conservação e cidadania. Como garantir o direito à moradia digna, ao desenvolvimento social e ao acesso à infraestrutura sem comprometer o ecossistema local? A resposta passa por uma atuação integrada entre órgãos ambientais, governos locais, entidades comunitárias e a própria população — que, mais do que qualquer outro ator, conhece de perto os limites e possibilidades dessa convivência.

Galinhos se apresenta, assim, como um microcosmo de um dilema nacional: o Brasil, com sua vastidão territorial e riqueza ambiental, precisa encontrar caminhos para proteger seus biomas sem esquecer das pessoas que vivem neles. A cidade potiguar, com sua resistência silenciosa e beleza intacta, talvez seja um dos melhores pontos de partida para essa reflexão.